Prata da Casa


Jussara Serafini Bastos

12/07/2022

Jussara Serafini Bastos

No mês dedicado à prevenção do câncer de mama, compartilhamos orgulhosos, a história da nossa colaboradora Jussara Serafini Barros que enfrentou a doença pela segunda vez e com muita fé e superação.

“Esta foi a segunda vez que tive câncer de mama, ainda não havia terminado o tratamento do primeiro quando surgiu o segundo. Não sou uma pessoa que se abate ou desespera, mas confesso que fiquei abalada porque desta vez era um câncer mais agressivo e eu tinha que correr contra o tempo. Senti o primeiro impacto quando abri o resultado do exame, mas como sempre faço em qualquer desafio que a vida me oferece, assimilo rapidamente e vou para a luta.”

Para tia Jussara, a fé e a confiança foram essenciais durante todo tratamento.

“A minha fé em Deus e a confiança de que Ele caminha junto comigo, de que nada é por acaso e que só passo por algo que Ele sabe que posso suportar, é o que me impulsiona a seguir fazendo tudo que está ao meu alcance para minha saúde física e mental. Isso não significa necessariamente a cura, mesmo que ela não chegue, estará tudo certo, porque tudo tem um tempo determinado de existência na Terra. Estou mais empenhada em um processo de cura interior, de melhoria íntima e, a doença física, tornou-se uma alavanca para isso.”

Além das transformações físicas, Jussara compartilha a nova perspectiva ao enxergar a vida.

“Uma doença como o câncer nos lembra que podemos findar mais cedo do que imaginamos, que não somos eternos. Diante disso, deixamos de dar tanta importância a certas bobagens que antes nos pareciam importantíssimas. As pessoas a quem amamos se tornam mais importantes ainda e aquele hábito de postergar encontros ou revelar sentimentos bons que nutrimos por muitas pessoas e que guardamos só para nós, se tornam urgentes de serem revelados e que ter aversões a algumas pessoas é uma estupidez. Percebi isso não só em mim, mas em outras pessoas que trilham o mesmo caminho de luta contra o câncer. Mas isso ocorre apenas em quem está atento aos sinais na vida, aquelas que só querem se livrar da doença sem nada aprender, e isso vale para qualquer doença, perdem uma oportunidade maravilhosa de reforma íntima. Acredito mesmo que depois de todo o desafio da doença encontramos um novo sentido que vai nos tornar melhores.”

Passar por um segundo tratamento oncológico é um desafio. Enfrentar o câncer em meio à pandemia, foi um grande obstáculo. Tia Jussara relembra os primeiros dias de isolamento, com contato social reduzido e a falta que sentiu do convívio com amigos e familiares.

“Minha família é muito pequena e todos trabalham, mas mesmo diante da dificuldade de companhia permanente, a família teve um peso de valor na minha recuperação. E quando falo em família estou incluindo a família de coração, amigos que fazem toda a diferença e que se unem a família de sangue multiplicando o carinho, o cuidado e o amor. Para mim foi essencial me sentir cuidada, amparada e querida e saber que não deixei de ser amada por estar careca ou mais gorda. Desde o começo da quimioterapia, tive problemas com deficiência de imunidade e não pude receber muitas visitas, mas quando a pandemia chegou foi pior, porque o pouco de pessoas que podiam vir até mim foi reduzido a zero, foi um isolamento mais doído. Antes da pandemia, eu sabia que quando me encontrava melhor, poderia receber alguém e isso era muito bom e me alegrava. Mas quando começou o isolamento, saber que não poria ver ninguém mesmo se estivesse me sentindo bem, porque estaria correndo mais riscos que o normal, foi péssimo. O convívio com as pessoas fez muita falta.”

Um dos efeitos colaterais mais conhecidos que a quimioterapia produz, é a perda de cabelo. Para tia Jussara, foi uma novidade. Mesmo passando pelo segundo tratamento, o primeiro foi menos agressivo e os cabelos não caíram. Na segunda vez, a queda dos fios foi inevitável e a decisão por raspar a cabeça aconteceu com um apoio de uma amiga cabelereira.

“Da primeira vez que tive câncer, não fiz quimioterapia, então não passei por essa experiência. Já desta vez, sabia que o cabelo ia cair, mas fiquei sempre com aquela esperança de que nada aconteceria, não conseguia me imaginar com cara de monja (rs). Fiquei sem saber ao certo como seria o processo da queda, porque tem pessoas que perdem rapidamente, outras demoram um pouco, já algumas acontece de cair tudo rápido e há outras ainda que ficam com uns espaços vazios na cabeça. Não tem jeito, tive que esperar para ver. Antes do cabelo cair, o couro cabeludo ficou bem dolorido e depois começou a queda. Acordei um dia no hospital com o travesseiro cheio de fios, então, decidi que era hora de raspar. Foi muito tranquilo, minha amiga que é cabeleireira foi até lá e raspou. Ficar careca não foi um problema para mim,
até gostei de me ver careca, é fresquinho e não gasta shampoo. Não quis usar peruca, mas quando saía tinha que colocar turbante para proteção, porque a pele ficou muito fina.

Tudo na vida é um ciclo que se fecha e passa, sou resiliente e me adaptei a situação, que logo se modificou. Meus cabelos já cresceram, mas nasceram ondulados, outra novidade para mim que sempre tive cabelo liso.”

2020 foi um ano atípico para todos nós, ainda mais para aqueles que enfrentaram ou enfrentam um tratamento longo como o de um câncer. Em meio aos desafios, Jussara acredita que 2020 deixa importantes lições.

“Como comentei antes, para mim as doenças são grandes lições. O câncer deixou meu corpo bem vulnerável, não podia abraçar as pessoas, não podia comer nada que não fosse feito em casa, não podia passear em locais com aglomeração de pessoas e mais outras tantas restrições. Bem, como perceberam, eu já estava praticamente treinando para a Covid-19 que estava por vir. Passar por esta fase tão difícil acrescida de uma pandemia foi um teste constante de equilíbrio. E apesar do ano não ter acabado, mas espero chegar até o fim dele, 2020 será para mim lembrado como um ano de superação, de equilíbrio, de valores resgatados, de amor a minha família e amigos, de saudades de quem não pude ver, de desapegos e de agradecimentos a todos que me acompanharam nesta jornada, e principalmente, de imensa gratidão a Deus por me oportunizar tantos aprendizados.

Antes de encerrar, tia Jussara deixa uma mensagem a todos que passam pelo câncer ou enfrentam a busca pela cura de alguma doença.

“Acredito que qualquer doença que nos incapacita temporariamente ou definitivamente, nos oportuniza mais tempo para reflexões, esta é uma oportunidade imperdível para um encontro com nós mesmos, é uma pausa para auto análise, para crescer como pessoa. O tratamento do câncer é um teste de paciência, nada é exato e aprendemos a cada dia, a cada medicação. Não estou colocando esta questão para que desanimem, pelo contrário, o que quero dizer é que é preciso ter muita paciência, força de vontade e nunca desistir, porque os momentos difíceis passam. É normal que em alguns dias o desânimo se apresente, mas não permita que estes dias se tornem permanentes.  Outra dica é nunca se revoltar, não se vitimizar e não viver se lamentando. Momentos difíceis sim, mas se vigie para não se tornar uma pessoa difícil. Seja generosa consigo e com os outros que estão ajudando neste processo.”

Tia Jussara, o Colégio CEIC | Dentinho de Leite encerra outubro da melhor maneira possível, compartilhando sua experiência e inspirando mais pessoas. A escola orgulha-se por tê-la no time de colaboradores em mais de 15 anos de parceria e dedicação. 

 


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